Honkyoku

Honkyoku

Herança transmitida pelos lendários monges Komusō, o repertório Honkyoku é marcado por uma sonoridade mística, técnica bastante refinada e aura espiritual.

É comum alguém ouvir pela primeira vez uma peça Honkyoku e despertar o desejo de tocar shakuhachi.

Curiosamente, mesmo entre os japoneses em geral, quando se referem à sonoridade característica do shakuhachi - aquele som típico do instrumento - estão pensando, na maioria dos casos, no som do Honkyoku.

Em um certo sentido, é como se o shakuhachi fosse o corpo e o Honkyoku a sua alma - ambos indissociáveis.

Entretanto, o que significa a palavra Honkyoku? Quantas peças desse repertório existem ainda hoje? É um repertório tocado apenas pelo shakuhachi? Qual a diferença entre Honkyoku e Koten Honkyoku? Essas e outras questões serão respondidas a seguir.

Honkyoku significa peça original. O ideograma hon 本, entre outros significados, pode ser entendido como "original" e "verdadeiro"; e o ideograma kyoku 曲 significa "música", "peça", "composição", "melodia", etc. Embora a palavra "origem" possa ser confundida com algo espiritual, na verdade, o termo Honkyoku tem um sentido mais simples e direto: se refere à peça ou conjunto de peças que foi criado originalmente para aquele instrumento (geralmente o shakuhachi). Em oposição, existe o termo Gaikyoku 外曲 (peça de fora), que se refere ao repertório criado, na maioria dos casos, para o koto ou shamisen, e que posteriormente sofreu adaptação e passou a ser tocado também pelo shakuhachi. Sendo assim, o termo Gaikyoku é empregado apenas por musicólogos ou pessoas que tocam shakuhachi, uma vez que do ponto de vista de quem toca koto e shamisen, as peças feitas originalmente para seus instrumentos não são vistas como "peças de fora".

Embora, conforme já dito, o termo Honkyoku seja usado, na maioria dos casos, para se referir ao repertório original do shakuhachi, há outros instrumentos que também fazem uso do termo. Entre eles estão o kokyū (instrumento de três ou quatro cordas friccionadas por um arco), ichigenkin (cítara de uma só corda) e yakumogoto (cítara de duas cordas). No caso dos instrumentos koto e shamisen são utilizados os termos Sōkyoku e Jiuta, respectivamente, para se referir ao seu repertório.

Durante o Período Edo (1603-1868), a difusão do repertório Honkyoku ocorria por meio de tradição oral entre os Komusō - grupo religioso composto por monges e samurais vinculados à seita budista Fuke. Como resultado desse processo de transmissão oral, surgiu um fenômeno, que os musicólogos japoneses chamam de dōmei-ikyoku 同名異曲 (peças diferentes, mas com o mesmo nome) e imei-dōkyoku 異名同曲 (nomes diferentes atribuídos a uma mesma peça), tornando difícil a compreensão acerca da origem e relação entre essas peças. Além disso, assim como na maioria dos casos em que houve transmissão oral de certa tradição musical no Japão, como por exemplo na Canção Folclórica Minyō, não existe a figura do compositor para tal repertório.

Entretanto, a partir do final da Era Meiji (1868 - 1912), compositores como Nakao Tozan (1876-1956) e Hōdō Ueda (1892-1974) escreveram novas peças para o shakuhachi que ganharam o nome de Honkyoku. A partir de então, surgiu a necessidade de diferenciar o antigo repertório Honkyoku das novas peças que estavam sendo criadas. Para isso, passou-se a utilizar o termo Koten Honkyoku para se referir ao repertório antigo, cujo significado é Honkyoku Clássico.

Atualmente, existem cerca de 150 peças Koten Honkyoku catalogadas, as quais, estão preservadas dentro de suas escolas/estilos ou templos, conforme descrito abaixo:

→ Kinko-ryū: 36 peças
→ Nezasa-ha Kinpū-ryū: 10 peças
→ Meian Shinpō-ryū: 20 peças
→ Seien-ryū: 21 peças
→ Meian Taizan-ha: 32 peças
→ Icchōken: 9 peças
→ Templo Meian de Echigo: 2 peças
→ Futaiken: 10 peças

No Núcleo de Estudos de Shakuhachi estudamos o repertório de 22 peças Honkyoku transmitidas por Katsuya Yokoyama (1934 - 2010).

Essas peças normalmente têm ritmo livre, ou seja, um ritmo que não é baseado na métrica ou na contagem de tempo estabelecido por uma pulsação. As frases são desenvolvidas na forma de gestos musicais, e a respiração do tocador tem papel fundamental na condução da expressividade da peça. Elementos tipicamente tradicionais do Japão, como a ideia do "ma", "jo-ha-kyu", "wabi-sabi", entre outros, são abundantes no repertório Honkyoku.

Há muito mais para se falar a respeito do Honkyoku. Suas escalas, efeitos sonoros, histórias e lendas envolvendo as peças, entre outros assuntos que fazem parte do universo do shakuhachi. Mas, a melhor forma de conhecer esse mundo é, de fato, tocando shakuhachi. Então, encerro esse artigo convidando o leitor a experimentar!

Em breve gravações de Koten Honkyoku estarão à disposição na plataforma. Para acessar a aba Material, onde você encontra Partituras, Vídeos e informações mais detalhadas a respeito do Honkyoku, torne-se aluno ou membro do Núcleo. 

👉 contato

👉 Saiba mais sobre os Instrumentos Tradicionais Japoneses (em construção...)

https://www.shakuhachi.com.br/